Fui convidada pela editora do caderno Celina, do jornal O Globo, para escrever um artigo sobre a tragédia que ocorreu em Suzano dias atrás. Estava chegando em outro estado do Rio de Janeiro para dar uma aula, com o horário apertado e ainda, sob o impacto do que havia ocorrido em Suzano. Vim no voo pensando sobre os adolescentes, sobre as famílias, sobre, especialmente, o momento do Brasil. Quantas notícias difíceis para digerir em tão pouco tempo.
Será que a população brasileira, já tão carente de diversos recursos, tem enfrentamento emocional para mais essa?
Ao receber a mensagem com o convite para escrever o artigo pensei que talvez fosse a forma de produzir uma reflexão sobre esses aspectos. No entanto, o jornal solicitou um texto que tinha uma direção desafiante: falar sobre o luto dos pais dos rapazes responsáveis pelo ataque.
Confesso que me senti um pouco ansiosa pelo receio de provocar algum tipo de mal estar em uma situação que, por si só, já era deflagradora de angústia.
Cheguei no hotel , com o tempo apertado, sentei em uma mesa de frente para o mar, respirei e iniciei essa escrita sem o propósito de produzir um texto formal, mas sim, um diálogo com o leitor sobre a quebra da empatia, sobre a dificuldade de solidariedade, sobre sobreviver a morte de um filho. Missão difícil na vida de muitos pais.
A seguir, compartilho o material que consegui produzir e que, de certa forma, me ajudou a acomodar sentimentos de pesar e angústia por mais essa tragédia.